domingo, 26 de setembro de 2010

Porcos Transgênicos Poluem Menos

Paula Rothman, de INFO OnlineSexta-feira, 16 de abril de 2010 - 13h18


Cecil W. Forsberg
Porcos transgênicos poluem menos
Os porcos criados no Canadá conseguem digerir enzima dos grãos que contém fósforo


SÃO PAULO – Pesquisadores canadenses criam porcos transgênicos que liberam até 70% menos fósforo em seus dejetos – e dispensam o uso de produtos artificiais na dieta.
O Enviropig foi feito com genes de bactérias e de ratos – mas isso não significa que ele produza carne com características dessas criaturas.
Desenvolvido na Universidade de Guelph, em Ontário, ele já teve sua criação liberada no Canadá - mas ainda aguarda licenças para o consumo da carne no país e também autorizações para produção nos Estados Unidos.
“O fósforo é um elemento fundamental para a regulação do crescimento de algas e bactérias na água”, explica o Professor Emérito Cecil Forsberg, microbiologista responsável pela pesquisa. Segundo ele, em excesso, esse elemento causa um rápido crescimento dessas criaturas e, por conseqüência, a poluição dos recursos hídricos.
O problema é que cerca de 50% a 75% do fósforo em grãos como milho e soja está presente em uma molécula chamada phytate, que não pode ser digerida pelos porcos. “Como resultado, se você der só cereais aos porcos, eles não têm fósforo suficiente, e é preciso adicionar enzimas artificiais em sua alimentação”, diz Forsberg. “Já o porco transgênico precisa comer só cereais, sem adição de fósforo, pois consegue absorver o nutriente do próprio alimento”.
Com o aumento da criação de porcos no mundo, o excesso de fósforo se torna um problema no solo – especialmente em locais como Estados Unidos e China, o país que concentra metade dos suínos do planeta. O Enviropig seria uma proposta não só ambiental, mas econômica, pois libera os fazendeiros da compra de enzimas artificiais para enriquecer a dieta com fósforo.
Para fazer com que os porcos conseguissem digerir a molécula phytate, os pesquisadores precisavam encontrar um gene para ser introduzido no DNA do porco.  A pesquisa liderada por Forsberg teve início em 1995 com a bactéria E.Colli, comum nos intestinos humanos e nos dos porcos. “O gene selecionado da bactéria tem atividade de enzima muito alta e é razoavelmente estável nas condições do estômago”, explica o professor.
No entanto, achar o “código” que permitisse aos porcos digerir a molécula que contém fósforo em alimentos como canola, trigo, milho e soja era apenas o primeiro passo. “Precisávamos de um pedaço de DNA que direcionasse a produção para as glândulas salivares”, conta Forsberg.
Isso é necessário porque a produção de uma substância no corpo requer a leitura e interpretação de diversas informações. Em outras palavras, não basta haver um gene que diga à célula o que ela deve produzir: é preciso toda uma cadeia de informações que determinam como e quais células do corpo devem produzir a substância. Daí um pequeno trecho do DNA do rato ter sido inserido no mesmo cromossomo que o gene da bactéria.
“É importante ressaltar que não há proteínas de rato sendo produzidas no porco. Todo o fragmento utilizado só serve para direcionar a produção à glândula salivar”, explica o cientista. “Houve muita coisa escrita na imprensa dizendo que estávamos produzindo partes de rato em porcos. E não é verdade”, ressalta.
Os primeiros porcos foram produzidos em 1999. Na época, os pesquisadores fizeram 33 leitões diferentes, cada um com um local onde o gene é inserido no cromossomo. Somente em 2003 foi selecionado aquele específico que atingiam as expectativas – o que continha os genes inseridos no cromossomo 4. A característica adicionada pode ser passada adiante para a prole.
Entre 2004 e 2006 foram feitos testes de segurança e, em 2007, a equipe enviou o 1º pedido ao FDA (órgão que controla alimentos e medicamentos nos Estados Unidos). Em 2009, os porcos foram submetidos às autoridades canadenses, que possuem três licenças diferentes: para segurança ambiental, para alimentação humana e para alimentação animal (dado que carcaças muitas vezes são utilizadas para alimentar outros animais).
Em 120 dias, a equipe conseguiu a autorização ambiental canadense, que permite a criação em escala maior – mas não o consumo. Atualmente, a universidade mantém 25 porcos. Os pesquisadores não puderam provar como seria um prato preparado com a carne do leitão transgênico, pois isso seria ilegal enquanto o governo não libera a autorização para consumo humano – no entanto, Forsberg garante que ela deve ter o mesmo gosto da de um porco normal. “As análises químicas, de proteína, gordura, de crescimento, e todos os outros testes que fizemos, não mostraram nenhuma diferença. Além do fato de eles conseguirem digerir fósforo da phytate, são completamente iguais aos outros porcos”. 
A pesquisa foi financiada por um grupo de criadores de porcos do Canadá e, segundo o cientista, a associação americana de criadores do animal também já manifestou interesse. “Nós gostaríamos de comercializá-los no Brasil mas, no momento, estamos buscando parcerias na China, que tem muitos problemas com a poluição dos dejetos dos porcos”, diz.
Em relação às críticas, o professor diz que não são muitas, pois as pessoas estão se acostumando aos transgênicos. “Quanto mais pessoas crescem com essa tecnologia, mais abertas à ideia ficam as novas gerações”.

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