sexta-feira, 24 de setembro de 2010

SAÚDE: Transplantes: O que está para vir



Fonte: Revista Galileu

Foto: 3.bp.blogspot.com
 
Corações feitos sob medida ou obtidos de porcos e de embriões são alternativa para doentes.
Hoje, são 24 mil brasileiros que aguardam um coração, um fígado ou um rim na fila de espera para transplantes. Daqui a alguns anos, não haverá sequer fila porque não será preciso esperar alguém morrer para que outro possa viver. Centros de pesquisa em todo o mundo preparam alternativas ao tradicional transplante de órgãos doados de pessoas clinicamente mortas. Alguns laboratórios investem na criação de tecidos, músculos, pele, artérias a partir de uma única célula retirada do doente ou de embriões ainda não formados. Outros seguem uma linha diferente: usam animais clonados e modificam seus genes para torná-los compatíveis com os humanos.
Há várias barreiras no caminho dessas pesquisas. Por exemplo, para usar órgãos de animais, como os porcos, é preciso primeiro adaptá-los ao corpo humano, o que não é fácil. Uma outra saída é a utilização de órgãos construídos a partir de células-tronco, as matrizes das células especializadas. Para obter essas células-curinga, como são chamadas informalmente, é preciso extraí-las de embriões. No final de agosto de 2007, o governo dos EUA decidiu financiar pesquisas com embriões humanos com objetivos terapêuticos. A decisão provocou protestos de grupos antiaborto, que consideram esse tipo de estudo imoral.
Os cientistas também investem numa terceira linha de atuação: a criação de órgãos artificiais dentro ou fora do organismo. "Existem várias idéias para acabar com a fila de espera. A mais viável é a que vai prevalecer", afirma Jorge Kalil, professor de alergia e imunopatologia da Universidade de São Paulo. A busca continua.
Entre as técnicas mais promissoras, está o xenotransplante, ou seja, o uso de partes de animais em substituição a órgãos humanos. Os porcos são os preferidos como "doadores" por terem órgãos de tamanho similar ao dos humanos. Soa estranho para uma pessoa viver com um coração suíno. De fato, hoje, isso é impossível. Para que a operação pioneira seja realizada com segurança será preciso superar algumas barreiras. O primeiro obstáculo foi contornado com a clonagem de porcos por dois grupos de pesquisa. Cientistas escoceses criaram cinco porquinhos clonados. Os responsáveis pela proeza são os mesmos que fizeram a ovelha Dolly em 1996, com ajuda da empresa PPL Therapeutics. Japoneses também conseguiram clonar uma porca, apelidada de Xena. Com a clonagem, é possível manipular o material genético desses animais, evitando que o órgão suíno desencadeie um processo de rejeição no homem.
Os porcos têm na superfície de suas células uma camada de carboidratos característica da espécie. Os pesquisadores buscam alterar seus genes de forma que os animais resultantes não tenham esses carboidratos. Os cientistas da PPL Therapeutics identificaram genes que, se alterados, poderiam eliminar essa camada. É um avanço, mas ainda não é tudo. Sobra o temor de que os órgãos suínos transplantados carreguem consigo vírus perigosos para humanos. Um dos patrocinadores da pesquisa escocesa, a empresa americana Geron Bio-Med, cancelou sua participação por causa disso.
Os porcos nascem com o vírus Perv (sigla em inglês para um nome complicado: retrovírus endógeno suíno), não presente em outras espécies animais. Um estudo publicado na revista Nature mostrou que houve infecção de ratos que receberam células de porcos.
A PPL Therapeutics não pretende abandonar a pesquisa. Segundo o diretor da empresa, Ron James, "há muito trabalho que ainda precisa ser feito. Não estaremos prontos para começar a testar os órgãos em humanos durante, pelo menos, quatro anos".

Células fetais
Mesmo aqueles cientistas que temem a disseminação de infecções estão esperançosos. "A história da medicina demonstra claramente que os maiores avanços sempre estão associados a riscos e benefícios. Os médicos são responsáveis por discutir o problema e desenvolver novas técnicas para eliminar o risco", diz Daniel Salomon, do Instituto de Pesquisa Scripps, nos EUA, autor do artigo na Nature.
Uma outra forma de acabar com a fila de espera é ainda mais intrigante. Trata-se da tentativa de construir órgãos complexos, como um fígado, um rim ou um coração, tendo como matéria-prima as células-tronco de embriões. As pesquisas com essas células crescem e já estão em fase de testes em animais. No caso de humanos, a questão é mais delicada. Muita gente pergunta se é correto usar embriões, mesmo clonados, como fonte provedora de tecidos humanos. Nos EUA, só poderão ser usados embriões congelados que tenham sido desprezados por clínicas de fertilização assistida. No Reino Unido, um relatório com parecer favorável ao uso de células-tronco em pesquisas terapêuticas foi divulgado este ano.
O segredo para a transformação das células-tronco está nos genes, que são o manual de instrução para definir as funções de cada parte do organismo. Cientistas acreditam que, se os genes corretos forem acionados, as células mudarão de função. Para isso, contam com o Projeto Genoma Humano. Em junho de 2007, uma das empresas que participaram do mapeamento dos genes, a Celera Genomics, fechou um acordo com outra empresa, chamada Geron, para trabalhar na criação de órgãos artificiais. A Geron tem o maior banco de células-tronco no mundo. Com esse acordo, a Celera terá as informações genéticas extraídas do genoma humano, que poderão explicar como se dá a especialização das células-tronco.
Os engenheiros também contribuem para acabar com a fila dos transplantes construindo corações artificiais. A idéia não é nova. Os primeiros órgãos artificiais começaram a surgir em 1950. Mas a pesquisa não avança com rapidez. Hoje, apenas pele e cartilagem são comercializados. Válvulas cardíacas estão chegando só agora ao mercado.
Muitos cientistas acharam que seria fácil criar um coração artificial, cuja estrutura é simples. Estavam enganados. O entusiasmo dos pesquisadores foi abalado em 1982, quando o Jarvik-7 foi implantado em um paciente americano. Durante os 112 dias que ele viveu com o aparelho sofreu problemas renais, hepáticos, contraiu pneumonia, teve convulsões e morreu de falência generalizada dos órgãos.
"Embora a experiência não possa ser considerada bem-sucedida de um modo geral, ela provou que o aparelho pode prolongar a vida do paciente", avalia Alan Snyder, da Faculdade Estadual da Pensilvânia, nos EUA. "Desde então, os cientistas estão sendo mais cautelosos."

Foto: 1.bp.blogspot.com
Referência:  http://www.suinos.com.br/mostra_noticia.php?id=3718&comunidade=Curiosidade&cd=12

Nenhum comentário:

Postar um comentário